Ponto de Vista | Dengue no inverno, o combate continua

Ponto de Vista | Dengue no inverno, o combate continua

A chegada da época mais fria e de ar mais seco do ano causa, naturalmente, uma diminuição no número de insetos. Isso nos dá uma falsa impressão de que os cuidados no combate às doenças transmitidas por mosquitos podem relaxar, mas isso é um grande engano. 

No caso do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da Dengue, Chikungunya e Zica, o engano é ainda maior, pois “seus ovos resistem a longos períodos de dessecação, que podem durar até um ano. Para a larva eclodir, basta que o ovo entre novamente em contato com a água, e isto permite que os ovos sobrevivam por muito tempo em ambientes secos, até o próximo período chuvoso e quente”, explica a pesquisadora Denise Valle, chefe do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do Instituto Oswaldo Cruz. Sendo assim, o combate durante a época mais fria e seca do ano pode garantir uma diminuição muito significativa de casos durante o verão, época mais crítica de contaminação, tanto nos grandes centros como no interior e litoral.

A atenção quanto ao aparecimento de focos do mosquito em residências é fundamental, com campanhas implementadas pelas Secretarias de Saúde dos Estados e Municípios. Transforme sua farmácia em um pólo de divulgação de informações e tratamento, ajudando a comunidade a tornar seu bairro e sua cidade mais saudável.

É essencial ficar atento aos sintomas

A dengue clássica, como é chamada na fase inicial, apresenta basicamente os seguintes sintomas: dores no corpo e atrás dos olhos, febre alta, náusea, vermelhidão na pele e fadiga. O exame para confirmação da doença e acompanhamento médico é sempre importante, desde a fase inicial. Na grande maioria dos quadros leves os sintomas têm duração de 7 a 10 dias.

A evolução da doença para casos mais graves acontece em uma parcela menor que 1% do total de casos, que em 2023, de acordo com levantamento da OMS (Organização Mundial de Saúde), foram cerca de 3 milhões no Brasil. Segundo o Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde, no primeiro quadrimestre de 2024 esse número já superou a marca de 4 milhões. 

As vacinas disponíveis e aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), desenvolvidas a partir do vírus atenuado, estão disponíveis em clínicas e farmácias habilitadas, e podem ser aplicadas em pessoas com idade entre 4 e 60 anos. Informação, atenção plena a prevenção e cuidados rápidos em caso de sintomas são as melhores armas para a redução dos casos.

Seu PDV de prevenção e tratamento

A importância dos repelentes

Os repelentes de insetos, barreiras químicas contra o mosquito Aedes Aegypti, são muito efetivos desde que respeitadas algumas observações. De acordo com orientações da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e da Anvisa, a presença de Icaridina ou DEET na composição melhora o desempenho do produto contra Dengue e, independente do repelente, o número de aplicações não deve superar 3 vezes ao dia.

“Sabemos que o melhor caminho para a prevenção, além de ações domésticas para evitar a reprodução do vírus, é o uso de repelentes, que apoiam o afastamento do mosquito. As opções para adultos e infantil, de longa ou curta duração e a versão com protetor solar atendem a um amplo leque de necessidades. Na farmácia, para que o time esteja preparado para atender esse tipo de demanda é importante que todos ajam em sincronia, como uma orquestra. Alinhamento de informações e capacitação dos times são elementos fundamentais”, aponta a Europharma.  

Hidratação é fundamental

O consumo de líquidos combinados com alimentação leve e repouso, são o principal caminho para evitar que a Dengue evolua para formas mais graves. A perda de líquidos pelo corpo, em decorrência da contaminação, deve ser combatida desde os primeiros sinais da doença. 

Algumas bebidas específicas para reidratação oral estão disponíveis no mercado oferecendo fórmulas eficazes e balanceadas e são recomendadas pela OMS para tratar e aliviar os sintomas. De acordo com informações de Patrícia Ruffo, nutricionista e Gerente Científico da Divisão Nutricional da Abbott no Brasil/Pedialyte, “Diante da atual epidemia de dengue, a Abbott desenvolveu materiais informativos para ajudar a educar os consumidores sobre o aumento dos casos, reforçando a necessidade de hidratação adequada. Nosso produto foi desenvolvido para reposição das perdas acumuladas de água e eletrólitos causada pela desidratação por doença, exercício ou calor. Só água é ótimo, mas existem várias outras formas de obter os fluidos que você precisa, inclusive nos meses de inverno, como chás, água saborizada com frutas (limão, morango, laranja) e as bebidas contendo eletrólitos, especialmente se você precisa repor fluidos perdidos por meio do suor ou vômito/diarreia”.

Atenção aos fármacos 

Pesquisas ainda não chegaram em um medicamento específico para o tratamento da Dengue, mas temos diversas opções para atenuar os sintomas. É importante ressaltar a necessidade de orientação médica, pois alguns tipos de medicamentos podem levar ao agravamento do quadro.

“Em casos de Dengue, é comum que as pessoas busquem por medicamentos que ajudem a reduzir os sintomas da doença. Analgésicos e antipiréticos, como o paracetamol, são frequentemente utilizados para aliviar as dores e febre associadas a doença. Observamos as redes farmacêuticas preparando seus balconistas e farmacêuticos para fornecer orientações precisas. Além disso, estão tornando os produtos de prevenção mais acessíveis, oferecendo descontos melhores. Manter uma variedade de produtos em estoque e visíveis, disponibilizar materiais educativos sobre o assunto e realizar campanhas de conscientização na comunidade elevam a qualidade no atendimento”, nos diz a equipe Hypera Pharma/Coristina D Pro.

Teste rápido e sua importância

O diagnóstico rápido e eficaz nos casos de Dengue impactam diretamente no tratamento e na evolução da doença, que pode, em alguns casos, atingir quadros graves. Como não existem autotestes, as farmácias são agentes facilitadores para o acesso da população a essa ferramenta essencial, agindo como um grande aliado da saúde pública. Segundo a Abramed, Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica, a procura pelos testes atingiu números impressionantes, chegando a subir 500% em farmácias de algumas regiões no primeiro trimestre.

Entre os três tipos de teste utilizados, dois podem ser feitos em farmácias.

Pesquisa de Antígeno NS1

Quando fazer:

Recomendação de até 5 dias após os primeiros sintomas.

Como é feito:

Teste de sangue coletado através de picada no dedo.

O que analisa:

Esse exame realiza a detecção simultânea dos anticorpos IgM e IgG anti-dengue, assim como o antígeno da dengue NS1 (proteína do vírus) dos quatro sorotipos por meio de amostra coletada. 

Sorologia

Quando fazer:

Recomendação a partir de 6 dias após os primeiros sintomas.

Como é feito:

Teste de sangue coletado através de picada no dedo.

O que analisa:

Esse exame realiza a detecção de anticorpos produzidos pelo sistema imunológico em resposta a infecção.

Assim como a prevenção, um diagnóstico preciso é fundamental para o controle epidemiológico e para que políticas públicas eficazes sejam implementadas.

Foto: iStock.com/galitskaya